terça-feira, 1 de novembro de 2016

No dia dos mortos. Para a Paula B. e para a Paula Guerreiro que não tem feiecebuque

                    



https://youtu.be/Ik8ktuRwIRo



No dia dos mortos.
Quem me conhece sabe que não sou de celebrações religiosas, não vou à missa, não tenho santinhos, não guardo relíquias da Nossa Senhora de Fátima  e não entendo o significado da palavra pecado, mas entro nas Igrejas, porque - mesmo as mais 'modernaças' - são sítios lindos e muito frescos no Verão, não rezo (acho que nem sei!), e tenho uma forma particular de olhar para o Divino. Celebro o Natal, porque sempre o associo à minha infância feliz e porque a minha mãe faz o melhor perú recheado do mundo. No dia de Natal, quando estávamos todos juntos, o almoço arrastava-se para o lanche que, por sua vez, se comia à ceia e as gargalhadas eram muito melhores que as prendas que todos recebíamos, também "montava" a árvore de Natal com o meu avô, esses são os momentos que guardo com muito amor e ternura de um dos meus mortos mais queridos. Todos temos os nossos mortos, todos temos os nossos mortos mais felizes. Se, com a morte dos meus avós, aprendi o significado da palavra perda, também, foi com a morte de ambos que aprendi a respeitar e amar todos os mortos que, por mim, já passaram, estranha frase esta! Gosto de todos os "meus" que morreram. Amo a recordação que tenho deles, a felicidade que com eles vivi e aquilo que de bom me deixaram - não tenho mortos que me tenham feito mal ou não gostassem de mim e eu deles, creio que acontece o mesmo com toda a gente! Mas o que aprendi de mais completo e, por isso, tão sério e íntimo é o não temer a morte. Sou "uma temerária muito católica”, como alguém me chamou, um "não digas isso filha, que Deus castiga," ou, ainda, uma tola armada em corajosa. A ideia da morte - da minha morte - entenda-se - não me assusta. Não saber o que está além, no outro lado, ou se há Céu ou Inferno deixa-me alguma (muito pouca) ansiedade, ou melhor, uma grande curiosidade. Serei uma herege, ou uma mulher pouco inteligente, ou mais alguns epítetos, aceito-os e respeito-os todos - insultos, lamento, mas não oiço! E, diga-se, passo o cliché, tenho mais medo e respeito pela vida. E, se amanhã não acordar? Sim. É verdade, não pagarei as contas, nem corrigirei testes, mas que vida não deixo por viver? Espero acordar viva, amanhã e mais algumas madrugadas? Então, como viverei eu? Como serão os meus melhores momentos? Como conseguirei viver os mais difíceis? Que posso eu fazer, bem, com estes sóis e estas chuvas que estão para chegar? Ui! Pensando bem, este maldito hábito de pensar! É da vida, da vidinha e das outras vidas menos pindéricas que eu tenho medo. Medo, medo, não tenho.
 Tenho pavor!

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