https://youtu.be/Ik8ktuRwIRo
No dia dos mortos.
Quem me conhece sabe que não sou de celebrações religiosas, não
vou à missa, não tenho santinhos, não guardo relíquias da Nossa Senhora de Fátima e não entendo
o significado da palavra pecado, mas entro nas Igrejas, porque - mesmo as mais
'modernaças' - são sítios lindos e muito frescos no Verão, não rezo (acho que
nem sei!), e tenho uma forma particular de olhar para o Divino. Celebro o Natal,
porque sempre o associo à minha infância feliz e porque a minha mãe faz o
melhor perú recheado do mundo. No dia de Natal, quando estávamos todos juntos, o almoço arrastava-se para o
lanche que, por sua vez, se comia à ceia e as gargalhadas eram muito melhores
que as prendas que todos recebíamos, também "montava" a árvore de
Natal com o meu avô, esses são os momentos que guardo com muito amor e ternura
de um dos meus mortos mais queridos. Todos temos os nossos mortos, todos temos
os nossos mortos mais felizes. Se, com a morte dos meus avós, aprendi o
significado da palavra perda, também, foi com a morte de ambos que aprendi a
respeitar e amar todos os mortos que, por mim, já passaram, estranha frase
esta! Gosto de todos os "meus" que morreram. Amo a recordação que
tenho deles, a felicidade que com eles vivi e aquilo que de bom me deixaram -
não tenho mortos que me tenham feito mal ou não gostassem de mim e eu deles,
creio que acontece o mesmo com toda a gente! Mas o que aprendi de mais completo
e, por isso, tão sério e íntimo é o não temer a morte. Sou "uma temerária
muito católica”, como alguém me chamou, um "não digas isso filha, que Deus
castiga," ou, ainda, uma tola armada em corajosa. A ideia da morte - da
minha morte - entenda-se - não me assusta. Não saber o que está além, no outro
lado, ou se há Céu ou Inferno deixa-me alguma (muito pouca) ansiedade, ou
melhor, uma grande curiosidade. Serei uma herege, ou uma mulher pouco
inteligente, ou mais alguns epítetos, aceito-os e respeito-os todos - insultos,
lamento, mas não oiço! E, diga-se, passo o cliché, tenho mais medo e respeito
pela vida. E, se amanhã não acordar? Sim. É verdade, não pagarei as contas, nem
corrigirei testes, mas que vida não deixo por viver? Espero acordar viva,
amanhã e mais algumas madrugadas? Então, como viverei eu? Como serão os meus
melhores momentos? Como conseguirei viver os mais difíceis? Que posso eu fazer,
bem, com estes sóis e estas chuvas que estão para chegar? Ui! Pensando bem,
este maldito hábito de pensar! É da vida, da vidinha e das outras vidas menos
pindéricas que eu tenho medo. Medo, medo, não tenho.
Tenho pavor!
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